Até a última noite, aquela que marcou o fim de um ciclo de aproximadamente um ano de aprendizado, que começou com bandeira preta de pandemia e terminou com coquetel e painel de selfie no Centro Administrativo Municipal, nesta quinta-feira (16), o programa Ser Jovem Cidadão, desenvolvido pela Prefeitura, por meio da Fundação de Assistência Social (FAS), em parceria com SENAC, Ministério do Trabalho e empresas privadas, ensinou lições importantes a 11 jovens de 15 a 18 anos atendidos anteriormente pelos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do Município. A mais importante de todas, para a turma inteira, foi aprender como é uma formatura.
Sara Camargo de Mello, por exemplo, 16 anos, que cinco minutos antes de iniciar a cerimônia enfrentava 50 tons de apreensão pelo atraso da mãe – que poderia ter pego o ônibus errado, poderia ter descido no ponto errado, poderia ter errado o caminho desde o centro da cidade, a despeito de todas as tentativas de tranquilização empreendidas pela colega Bianca Berti de Oliveira –, aprendeu que, neste tipo de ocasião, como de resto em quase todas as outras, mãe não costuma falhar.
A estudante da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Professor Clauri Alves Flores, no Bairro Santa Fé, aprendeu também, o que lhe aguarda em futuro próximo, quando o atual sonho do curso superior em Enfermagem se tornar realidade. Que é o que famílias fazem na plateia quando o nome do seu formando é chamado ao palco: gritaria e (um pouquinho de) fiasco. Não da mãe, dona Eva, 51 anos, temperada na majestade da elegância, que aplaudiu, sorriu e chorou discretamente segurando a neta no colo. Mas da irmã Matiele, 26 anos, que encarnou a tiete enquanto durou o evento.
“É minha irmã mais nova. Somos em quatro mulheres lá em casa [e um irmão]. Ela é a primeira da família a conseguir um diploma. Nenhuma outra teve oportunidade. Estou muito feliz. Ela vai ser uma ótima enfermeira. Ela já é uma ótima tia”, disse Matiele, moendo o disparador de fotos do celular.
Sara cumpriu as horas práticas do programa de formação profissional – cuja parte técnica é ministrada pelo SENAC – no setor de Biometria do Centro Administrativo Municipal. Disse que aprendeu muito a lidar com pessoas (evitou usar o termo técnico jogo-de-cintura, mas a verdade é essa) e se sentiu inspirada pelo trabalho e a dedicação dos colegas profissionais de saúde.
Experiência que pode tê-la ajudado, também, a decifrar o que aconteceu com a popularidade e a habitual desinibição do valente escolhido para ser o orador da turma, quando chegou a vez dele subir ao púlpito e ajeitar o microfone.
Kauã Borges da Silva, o premiado com a tarefa, aprendeu que, nesta hora, a garganta se fecha, o canal das lágrimas se abre e aquele discurso que estava redondinho no papel leva o dobro do tempo para sair, cortado por pausas, soluços e suspiros. Mas dada a concisão do texto, a despeito de ser jovem, o autor tem muito pouco de aprendiz:
“Começamos em 32, no online, e hoje estamos aqui em 11, no presencial. E está tudo bem”.
Ao entender que o óbvio, às vezes – muitas vezes -, precisa ser dito, o garoto mostrou que a quilometragem pesa mais do que o ano de fabricação no trecho da vida. E traduziu em palavras o que o auditório inteiro já sabia:
“A palavra que define essa turma é superação”.
Até o poder público conseguiu superar as expectativas de Katrine Macedo de Moraes, 17 anos, estudante da Escola Estadual Abramo Pezzi, durante seus dias de aprendiz no CRAS Sul:
“Tem gente que acha que na prefeitura ninguém faz nada e o CRAS só serve para entregar cesta básica. Agora vi o tanto que o pessoal de lá trabalha e se esforça para fazer as coisas acontecerem. Todo mundo se dedica muito”, revelou.
Nem tudo foram flores, é verdade:
“O começo foi meio surtado, até se adaptar. Mas depois, foi mais tranquilo”.
De fato, as impressões iniciais de Katrine foram tão revertidas, que hoje está indecisa entre cursar Serviço Social ou Psicologia – as duas especialidades com que teve contato direto e constante durante o período de trabalho. Inclusive, ela aponta a culpada pela inspiração: a gerente do CRAS Sul, Franciele Pereira.
“Katrine é uma menina muito comunicativa, prestativa e com grande desenvoltura. Trabalhou bem com o público, aprendeu a identificar as regras e horários, entendeu o funcionamento do dia a dia. Neste sentido, acho que o projeto foi um sucesso”, descreveu a assistente social e ex-gestora da estudante.
A noite desta quinta-feira (16) deixou, ainda, o legado de um aprendizado comum entre a turma inteira. O de que todas as formaturas se parecem. Nos ritos, comportamentos, protocolos, piadinhas internas, gestos e palavras de afeto entre alunos e professores, e na seleção de músicas de entrada dos formandos que provavelmente ninguém acima dos 30 anos sabe de que planeta veio. Tudo é meio igual.
Toda formatura tem alguém experiente da mesa de honra para entregar o diploma e dizer algo como:
“Vamos sentir falta de vocês. Não se afastem. Venham nos visitar”.
O diferente é este alguém ser o prefeito da cidade.
Para os 11 do programa Ser Jovem Cidadão, da FAS, a temporada de premiações está apenas começando.
Saiba mais
O programa-piloto Ser Jovem Cidadão é desenvolvido pela Prefeitura, por meio da Fundação de Assistência Social (FAS), em parceria com Senac, Ministério do Trabalho e iniciativa privada. A ação contempla jovens de 15 a 18 anos que frequentam Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do município e cursaram, no poder público de Caxias do Sul, as horas práticas da formação técnica profissional oferecida pelo Senac, com remuneração por empresa participante do projeto. Atualmente, já está em fase de estudos uma segunda edição da iniciativa.
Confira os nomes dos formandos
· Bianca Berti De Oliveira
· Gabriel José Santos
· Hendryl Luan Siqueira Santos Pistor
· Iago Juan Costa Ferreira
· João Vitor Abreu D’Elly
· Jonatan Uriel De Jesus De Oliveira
· Josiel Monti Soares
· Katrine Macedo De Moraes
· Kaua Borges Da Silva
· Kelven Lorran Rodrigues Cesario
· Sara Camargo De Mello
Fotos: Gisele Nozari
Formanda Katrine Macedo de Moraes, que atuou no CRAS Sul
Foto por Gisele Nozari
Formanda Sara Camargo de Mello preocupada com o atraso da mãe para chegar na solenidade
Foto por Gisele Nozari
Paraninfa Quelen Edeneia Rech
Foto por Gisele Nozari
Orador Kauã Borges da Silva, em discurso emocionado
Foto por Gisele Nozari
Professora homenageada Sharlene Barros de Quadros Noel (D)
Foto por Gisele Nozari
Diretora de Proteção Social Básica da FAS, Jovane Fochesatto
Foto por Gisele Nozari
Prefeito Adiló Didomenico entregou os diplomas aos formandos
Foto por Gisele Nozari
Formanda Sara Camargo de Mello com a mãe, Eva (que chegou em tempo)
Foto por Gisele Nozari