Muitas lições estão sendo dadas, durante este mês de maio, em dois auditórios de Caxias do Sul, de segunda a sexta-feira, entre 19h e 21h. De Língua Portuguesa, Matemática, Legislação, conhecimentos específicos e até manipulação de alimentos, por parte de uma equipe de professores voluntários da Secretaria Municipal de Educação (SMED). E de perseverança, força de vontade e disciplina, por parte de mais de 400 profissionais de alimentação e limpeza, que após o expediente nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs), encaram um terceiro turno de curso preparatório para enfrentar – logo adiante – aquele que, para muitos, é um desafio inédito: o concurso público da CODECA.
Pouco menos de um ano após as duas categorias serem absorvidas pela companhia de economia mista em regime emergencial – como solução encontrada pela Prefeitura para acabar com constantes falhas no cumprimento de contratos por outras prestadoras de serviço terceirizadas, que impactavam diretamente no bem-estar dos funcionários e no atendimento dos estudantes –, chegou a hora de oficializar o relacionamento. O estatuto da empresa de economia mista determina que as contratações sejam efetivadas mediante seleção por concurso público. Da mesma forma que estipula as qualificações e habilidades necessárias para o exercício das funções.
Ciente da dificuldade que as exigências podem representar para muitos candidatos e candidatas (vários deles que inclusive já atuam na rede municipal de ensino ou na própria secretaria) na busca pela vaga, a SMED entrou em ação. Um acordo de cooperação firmado com o Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza e Conservação de Caxias do Sul (Sindilimp) levou ao desenvolvimento e realização de um curso preparatório exclusivo e sob medida para quem sonha com um lugar no quadro efetivo da CODECA.
“É até um trabalho com o objetivo de segurar a equipe conosco”, descontrai, mas não muito, a professora de Língua Portuguesa e diretora da EMEF Renato João Cesa, Aline Letícia Rech de Abreu, num comentário que externa aflição compartilhada por muitas das colegas de magistério.
Ninguém quer perder trabalhadores de cozinha ou limpeza com quem toda escola já está familiarizada.
“É uma aula meio EJA [Educação para Jovens e Adultos], meio concurseira. Muita gente aqui nunca prestou prova na vida, então, também é preciso passar tranquilidade. Além de alguns macetes”, explica Aline, numa pausa durante a atividade no auditório do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, que recebe 170 dos 430 inscritos no curso preparatório.
“Tem a parte do conteúdo da disciplina, que precisa ser transmitido, mas também procuramos explicar as rotinas básicas de se fazer uma prova, até para tranquilizar o pessoal, tirar o medo do desconhecido”, revela o professor de Matemática da EMEF Angelina Sassi Comandulli, Germano Mateus Zugno Machado, na segunda semana de atividades no auditório do Sindilimp, onde se concentram os demais participantes.
Orientações desde a inscrição
Embora sejam áreas tratadas como prioritárias, Língua Portuguesa e Matemática não são as únicas abordadas pelos professores voluntários da SMED no curso preparatório para o concurso de profissionais de merenda e limpeza da CODECA:
“Também são trabalhados conhecimentos específicos para o cargo. As chamadas atribuições do cargo e suas atividades. Para chamar atenção aos critérios de exigências que serão cobrados e têm peso na avaliação do concurso, ainda que a maioria dos trabalhadores e trabalhadoras já saibam pela prática. Muita gente nunca fez concurso, não está habituado a esta dinâmica”, comenta a assessora jurídica da SMED Luciane Gomes Dutra de Oliveira – ela própria uma das ministrantes do conteúdo.
A ideia é levar a acessibilidade das informações ao extremo, dando ênfase a dinâmicas facilitadoras, para que os participantes consigam prestar o concurso e continuar atuando nas escolas onde estão hoje. Neste sentido, são cobertas até questões pouco habituais em outros cenários, como inscrições, cotas, registros, formas de se colocar e regras exigidas. Para não deixar nenhum flanco aberto, até mesmo a nutricionista chefe da SMED, Natália Guerra, ficará a cargo das aulas sobre boas práticas alimentares – uma das exigências do concurso.
“Todo este esforço também serve para que estas pessoas se entendam como cidadãs. É uma aprendizagem de cunho social, além de curricular. E que reverte em benefício de toda comunidade. Muitas destas trabalhadoras e trabalhadores são o sustento da família. Mesmo que não sejam aprovados agora, cada um tem um ganho de formação pessoal”, complementa Luciane.
De conhecimento mais encorpado, caso não haja aprovação do candidato nesta oportunidade, entram em cena outros entes, como as próprias entidades representativas das categorias, para auxiliar nos encaminhamentos de outras alternativas.
“Acima de tudo, agradecemos imensamente a disponibilidade dos professores, porque saem de suas atividades laborais remuneradas, à noite, para ir até os locais das aulas e auxiliar de maneira voluntária. Sem o envolvimento deles, não seria possível oferecermos este apoio aos trabalhadores”, conclui a secretária municipal de Educação, Sandra Negrini.
As aulas prosseguem até o início de junho, pouco antes da data de realização do concurso.
QUEM SÃO OS PROFESSORES VOLUNTÁRIOS
- Jordana Molinetti Silvestrin
- Melissa Chemelo
- Aline Letícia Rech de Abreu
- Vagner Zunianelo
- Johnatan Rodrigues
- Germano Mateus Zugno Machado
- Luciane Gomes Dutra de Oliveira
- Luciana Daniela Duarte
- Natália Guerra
Fotos: Elisabete Bianchi